terça-feira, 14 de abril de 2009

O PENSAMENTO DA ÉTICA (Edgar Morin)


“A Ética encontra o ser humano consigo mesmo, com sua comunidade, com a espécie”. Essa afirmação de certa forma resume o principio fundamental da ética para Morin, a ligação.
A ética para um indivíduo, no âmbito da palavra ligação, sofre intervenções externas da cultura, das crenças, do meio ambiente e das normas comunitárias compreendida como a tríade indivíduo-sociedade-espécie, fazendo parte de um contexto comum que podem ser analisados de formas distintas, mas nunca isoladas.
Considerada característica inerente a toda ação humana, a ética é um elemento vital na produção da realidade social, ou seja, principal responsável da formação da consciência moral do sujeito. Sujeito esse que para Morin representa a auto-afirmação desse homem no centro do mundo, um ser egocêntrico, possuindo princípios tanto da exclusão (o indivíduo singular) como da inclusão (o individuo coletivo).
Nos dias atuais podemos encontrar diversos dilemas éticos que vão desde crises cotidianas de grandeza local ou global até o nosso relacionamento hostil com a natureza. Banhados pelo egoísmo, auto-indulgência e ganância, a riqueza gerada pelo lucro incondicional torna-se um objetivo que deve ser atingido a qualquer custo e muitas vezes sem escrúpulos. Tentando contornar ou amenizar o impacto capitalista que envolve todo o mundo a palavra de ordem passa a ser sustentabilidade.
Trocar a rentabilidade de meios lucrativos e exploratórios por práticas menos agressivas ao meio ambiente significa transformar o sujeito singular em sujeito coletivo. Repensar o futuro das próximas gerações, a preservação e conservação do meio ambiente e a exploração dos recursos naturais são alguns dos valores que devem ser assimilados não apenas por nossos representantes no poder, mas também por nós mesmos, representantes de uma sociedade como um todo.
A nova visão ecocêntrica, traz consigo um conceito para a ética ambiental segundo Antônio Silveira: “Estudo da conduta comportamental do ser humano em relação à natureza, decorrente da conscientização ambiental e conseqüente compromisso personalíssimo preservacionista, tendo como objetivo a conservação da vida global”. O novo conceito parte do principio que o homem deve ser consciente que faz parte da natureza, não é o dono dela.
A ética está relacionada ao nosso sentimento moral na qualidade de distinção e justiça, fundamentadas nas idéias de bem e virtude enquanto valores perseguidos por todos os indivíduos que fazem parte de um coletivo. Sendo assim questões vivenciadas durante nosso cotidiano nos colocam diante de situações práticas que nos obrigam a aplicar o conceito de ética e moral. Qual atitude é a mais correta? Devo ajudar um amigo em perigo, mesmo correndo risco de vida? Os soldados que matam numa guerra, podem ser moralmente condenados por seus crimes ou estão apenas cumprindo ordens?
A última questão levantada anteriormente representa o universo prático do senso de ética encontrado por Michael perante o julgamento de Hanna no filme “O Leitor”, destoado pelo que foi vivido no curto romance entre o casal. A situação vivida por Hanna no julgamento pode ir de “culpada” a “inocente” facilmente dependendo do ponto de vista de Michael ou do júri público. Os códigos de leis morais e éticas apresentados no filme serão inócuos para a questão, já que a solução para o dilema apresentado no filme não envolve apenas a pessoa que o propõe, mas também a outra pessoa que pode sofrer conseqüências das decisões e ações tomadas pelo primeiro.
Duas situações puderam ser observadas durante o decorrer do filme. A primeira, descrita anteriormente, abre a discussão da ética perante a omissão de Michael sobre fatos relevantes que poderiam mudar a sentença aplicada a Hanna por decisão do Juiz. A segunda, parte do principio da obediência. Hanna como um soldado que responde a ordens não poderia libertar os presos da igreja que incendiava, contrariando a ética trabalhista apresentada naquela situação. Como demonstra o filme, o ataque às instalações presidiárias seguido da fuga de seus superiores causou um conflito moral para Hanna. Libertar os prisioneiros e descumprir uma ordem direta agindo com compaixão e de forma altruísta ou seguir os princípios egoístas nazistas deixando os prisioneiros padecerem em virtude de uma possível rebelião?
Morin no texto “O pensamento da ética” aborda tal situação como transformações históricas e revoluções que fizeram parte da evolução social do ser humano, possibilitando a sua emancipação. O homem passou a modificar o seu meio, a sua existência, questionando, discutindo, empregando valores, tornando-se autônomo e individualista, tomando suas próprias decisões.
A necessidade de uma auto-ética, não como um conjunto de valores coletivos (por exemplo, a religião), mas como uma visão particular do que é correto e de seu poder de formular suas próprias obrigações morais desenvolve o individualismo constituído pelo universalismo ético e o desenvolvimento do egocentrismo.
A ética, a moral e o egocentrismo, em muitas situações, andam de mãos dadas em campos diversos que compõe a sociedade. Sociedade essa que prima por um desenvolvimento sustentável, do meio ambiente por exemplo, que necessita de um envolvimento e de uma participação ativa da população. A consciência de uma ética-moral adquirida por membros de uma sociedade causa a descentralização do Poder, por mim aqui representando o egocentrismo, formado por grupos com ideologias distintas, que lutam entre si pela ocupação da cadeira maior do Estado. Assim, a realização do eu próprio acaba desviando os homens da busca pela concretização do bem comum, afundando os ideais daqueles que prezam por um futuro sustentável.
Pessoas distinguindo o certo do errado, o útil do inútil, o bem do mal, tendo noção de seus direitos e obrigações legais com respeito ao uso da terra e dos recursos naturais, exigindo investimentos na área de reabilitação e conservação dos recursos naturais e acima de tudo, formadoras de opiniões, são sujeitos que possuem um alicerce bem fundamentado de ética e moral.
Ética e moral estão intimamente relacionadas como condições inerentes aos seres que vivem em sociedade, mas para outros, há diferenças significativas entre a ética e a moral. Ética é principio, moral são aspectos de condutas especificas. Ética é permanente, moral é temporal. Ética é universal, moral é cultural. Ética é regra, moral é conduta de regra. Ética é teoria, moral é prática.
O conceito de ética apresenta-se de formas diferentes, através de pensamentos diferes, por pensadores diferentes. Acima de tudo, um princípio a ser seguido.

“Ética é o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto".
(FERREIRA, 2004)

“O ato moral é um ato de religação: com o outro, com uma comunidade, com uma sociedade e, no limite, religação com a espécie humana”.
(MORIN, 2005)

“Ética é: fazer o bem; agir com moderação; saber escolher; praticar as virtudes; viver a justiça; valer-se da razão; valer-se do coração; ser amigo; cultivar o amor; ser feliz”.
(CHALITA, 2003)

"A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta".
(VALLS, 1993)

“No campo da atividade econômica, perseguir o lucro sem levar em conta as conseqüências potencialmente negativas pode, sem dúvida, trazer sentimentos de grande alegria quando se alcança o sucesso. Mas, no final, há sofrimento: o meio ambiente fica poluído, nossos métodos inescrupulosos levam outras pessoas à falência, as bombas que fabricamos causam mortes e ferimentos. A ética é o meio de garantir que não prejudiquemos os outros”.
(DALAI LAMA, 2000).

REFERÊNCIAS:


CHALITA, Gabriel Benedito Issaac. Os dez mandamentos da ética. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.

DALAI LAMA, Sua Santidade. Uma ética para o novo milênio. 7ª ed. Tradução Maria Luiza Newlands. Rio de Janeiro: Sextante, 2000. 256p.

FERREIRA, Aurélio B. H. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3ª ed., Curitiba: Positivo, 2004.

MORIN, Edgar. O pensamento da ética. O método 6: Ética. Porto Alegre: Sulina, 2005, p. 19-30.

VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. 7a edição Ed. Brasiliense, p.7, 1993.

http://www.aultimaarcadenoe.com/artigos51.htm. Acesso em: 06 de Abril de 2009.

DICA DE FILME


- Narradores de Javé


- Sinopse:
Nada mudaria a rotina do pequeno vilarejo de Javé se não fosse o fato de cair sobre ele a ameaça repentina de sua extinção: Javé deverá desaparecer inundado pelas águas de uma grande hidrelétrica. Diante da infausta notícia, a comunidade decide ir em defesa de sua existência pondo em prática uma estratégia bastante inusitada e original: escrever um dossiê que documente o que consideram ser os "grandes" e "nobres" acontecimentos da história do povoado e assim justificar a sua preservação. Se até hoje ninguém preocupou-se em escrever a verdadeira história de Javé, tal tarefa deverá agora ser executada pelos próprios habitantes. Como a maioria dos moradores de Javé são bons contadores de histórias, mas mal sabem escrever o próprio nome, é necessário conseguir um escrivão à altura de tal empreendimento. É designado o nome de Antônio Biá, personagem anárquico, de caráter duvidoso, porém o único no povoado que sabe escrever fluentemente. Apesar de polêmico, ele terá a permissão de todos para ouvir e registrar os relatos mais importantes que formarão a trama histórica do vilarejo. Uma tarefa difícil porque nem sempre os habitantes concordam sobre qual, dentre todas as versões, deverá prevalecer na memória do povoado. Na construção deste dossiê, inicia-se um duelo poético entre os contadores que disputam com suas histórias - muitas vezes fantásticas e lendárias - o direito de permanecerem no patrimônio de Javé.