terça-feira, 16 de junho de 2009

Aprendendo a pensar

A maioria das aulas que tive foi expositiva. Um professor, normalmente mal pago e por isso mal-humorado, falava horas a fio, andando para lá e para cá. Parecia mais preocupado em lembrar a ordem exata de suas idéias do que em observar se estávamos entendendo o assunto ou não.

Ensinavam as capitais do mundo, o nome dos ossos, dos elementos químicos, como calcular o ângulo de um triângulo e muitas outras informações que nunca usei na vida. Nossa obrigação era anotar o que o professor dizia e na prova final tínhamos de repetir o que havia sido dito.

A prova final de uma escola brasileira perguntava recentemente se o país ao norte do Uzbequistão era o Cazaquistão ou o Tadjiquistão. Perguntava também o número de prótons do ferro. E ai de quem não soubesse todos os afluentes do Amazonas. Aprendi poucas coisas que uso até hoje. Teriam sido mais úteis aulas de culinária, nutrição e primeiros socorros do que latim, trigonometria e teoria dos conjuntos.

Curiosamente não ensinamos nossos jovens a pensar. Gastamos horas e horas ensinando como os outros pensam ou como os outros solucionaram os problemas de sua época, mas não ensinamos nossos filhos a resolver os próprios problemas.

Ensinamos como Keynes, Kaldor e Kalecki, economistas já falecidos, acharam soluções para um mundo sem computador nem internet. De tanto ensinar como os outros pensavam, quando aparece um problema novo no Brasil buscamos respostas antigas criadas no exterior. Nossos economistas implantaram no Brasil uma teoria americana de "inflation targeting", como se os americanos fossem os grandes especialistas em inflação, e não nós, com os quarenta anos de experiência que temos. Deu no que está aí.

De tanto estudar o que intelectuais estrangeiros pensam, não aprendemos a pensar. Pior, não acreditamos nos poucos brasileiros que pensam e pesquisam a realidade brasileira nem os ouvimos. Especialmente se eles ainda estiverem vivos. É sandice acreditar que intelectuais já mortos, que pensaram e resolveram os problemas de sua época, solucionarão problemas de hoje, que nem sequer imaginaram. Raramente ensinamos os nossos filhos a resolver problemas, a não ser algumas questões de matemática, que normalmente devem ser respondidas exatamente da forma e na seqüência que o professor quer.

Matemática, estatística, exposição de idéias e português obviamente são conhecimentos necessários, mas eu classificaria essas matérias como ferramentas para a solução de problemas, ferramentas que ajudam a pensar. Ou seja, elas são um meio, e não o objetivo do ensino. Considerar que o aluno está formado, simplesmente por ele ter sido capaz de repetir os feitos intelectuais das velhas gerações, é fugir da realidade.

Num mundo em que se fala de "mudanças constantes", em que "nada será o mesmo", em que o volume de informações "dobra a cada dezoito meses", fica óbvio que ensinar fatos e teorias do passado se torna inútil e até contraproducente. No dia em que os alunos se formarem, mais de dois terços do que aprenderam estarão obsoletos. Sempre teremos problemas novos pela frente. Como iremos enfrentá-los depois de formados? Isso ninguém ensina.

Existem dezenas de cursos revolucionários que ensinam a pensar, mas que poucas escolas estão utilizando. São cursos que analisam problemas, incentivam a observação de dados originais e a discussão de alternativas, mas são poucas as escolas ou os professores no Brasil treinados nesse método do estudo de caso.

Talvez por isso o Brasil não resolva seus inúmeros problemas. Talvez por isso estejamos acumulando problema após problema sem conseguir achar uma solução.

Na próxima vez em que seu professor começar a andar de um lado para o outro, pense no que você está perdendo. Poderia estar aprendendo a pensar.

Stephen Kanitz é administrador (www.kanitz.com.br)

Artigo Publicado na Revista Veja, Editora Abril, edição 1763, ano 35, nº 31, 7 de agosto de 2002, página 20.


Dica de Filme:

Ana e o rei

Ana e o rei


Resumo: Quando a professora inglesa, Anna Leonowens, chega ao exótico Sião para ensinar os filhos do Rei Mongkut, suas sensibilidades ocidentais se chocam com os modos do governante oriental. A tensão aumenta quando Mongkut descobre que forças externas estão conspirando contra seu regime.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

REVOLUCIONE SUA SALA DE AULA ( KANITZ)

Qual a profissão mais importante para o futuro de uma nação? O engenheiro, o advogado ou o administrador? Vou decepcionar, infelizmente, os educadores, que seriam seguramente a profissão mais votada pela maior parte dos leitores. Na minha opinião, a profissão mais importante para definir uma nação é o arquiteto. Mais especificamente o arquiteto de salas de aula.
Na minha vida de estudante freqüentei vários tipos de sala de aula. A grande maioria seguia o padrão usual de um monte de cadeiras voltadas para um quadro negro e uma mesa de professor bem imponente, em cima de um tablado. As aulas eram centradas no professor, o "lócus" arquitetônico da sala de aula, e nunca no aluno. Raramente abrimos a boca para emitir nossa opinião, e a maior parte dos alunos ouve o resumo de algum livro, sem um décimo da emoção e dos argumentos do autor original, obviamente com inúmeras honrosas exceções.
Nossos alunos, na maioria, estão desmotivados, cheios das aulas. É só lhes perguntar de vez em quando. Alguns professores adoram ser o centro das atenções, mas muitos estão infelizes com sua posição de ator obrigado a entreter por cinqüenta minutos um bando de desatentos.
Não é por coincidência que somos uma nação facilmente controlada por políticos mentirosos e intelectuais espertos. Nossos arquitetos valorizam a autoridade, não o indivíduo. Nossas salas de aula geram alunos intelectualmente passivos, e não líderes; puxa sacos, e não colaboradores. Elas incentivam a ouvir e obedecer, a decorar, e jamais a ser criativos.
A primeira vez que percebi isto foi quando estudei administração de empresas no exterior. A sala de aula, para minha surpresa, era construída como anfiteatro, onde os alunos ficavam num plano acima do professor, não abaixo. Eram construídas em forma de ferradura ou semicírculo, de tal sorte que cada aluno conseguia olhar para os demais. O objetivo não era a transmissão de conhecimento por parte do professor, esta é a função dos livros, não das aulas.
As aulas eram para exercitar nossa capacidade de raciocínio, de convencer nossos colegas de forma clara e concisa, sem "encher lingüiça", indo direto ao ponto. Aprendíamos a ser objetivos, a mostrar liderança, a resolver conflitos de opinião, a chegar a um comum acordo e obter ação construtiva. Tínhamos de convencer os outros da viabilidade de nossas soluções para os problemas administrativos apresentados no dia anterior. No Brasil só se fica na teoria.
No Brasil, nem sequer olhamos no rosto de nossos colegas, e quando alguém vira o pescoço para o lado é chamado à atenção. O importante no Brasil é anotar as pérolas de sabedoria.
Talvez seja por isto que tão poucos brasileiros escrevem e expõem as suas idéias. Todas as nossas reclamações são dirigidas ao governo - leia-se professor - e nunca olhamos para o lado para trocar idéias e, quem sabe, resolver os problemas sozinhos.
Se você ainda é um aluno, faça uma pequena revolução na próxima aula. Coloque as cadeiras em semicírculo. Identifique um problema de sua comunidade, da favela ao lado, da própria faculdade ou escola, e tente encontrar uma solução. Comece a treinar sua habilidade de criar consenso e liderança. Se o professor quiser colaborar, melhor ainda. Lembre-se de que na vida você terá de ser aprovado pelos seus colegas e futuros companheiros de trabalho, não pelos seus antigos professores.

Stephen Kanitz é administrador (http://www.kanitz.com/)
Publicado na Revista VEJA, Editora Abril, edição 1671, Ano 33, nº 42 de 18 de outubro de 2000, página 23
Dica de filme: Gênio Indomável (Good Will Hunting)
Sinopse
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Em Boston, um jovem de 20 anos (Matt Damon) que já teve algumas passagens pela polícia e é servente de uma universidade, revela-se um gênio em matemática e, por determinação legal, precisa fazer terapia, mas nada funciona, pois ele debocha de todos os analistas, até se identificar com um deles.
Informações Técnicas:
Título no Brasil: Gênio Indomável
Título Original: Good Will Hunting
País de Origem: EUAGênero:
DramaTempo de Duração: 126 minutos
Ano de Lançamento: 1997
Site Oficial: Estúdio/Distrib.:
Direção: Gus Van Sant
Elenco
Matt Damon .... Will Hunting
Robin Williams .... Sean Maguire

segunda-feira, 4 de maio de 2009

TEORIAS CONSTRUTIVISTAS (Aranha)

As teorias construtivistas deram um novo rumo à aquisição do conhecimento tanto por parte dos alunos como por parte dos professores, compreendendo a complexidade da aprendizagem.
Estudos relacionados às teorias construtivistas percorreram diversos campos das áreas naturais e sociais. A área da psicologia juntamente com a medicina são os principais representantes por pesquisas realizadas com crianças para entendimento desse processo, mesmo que em áreas distintas, ambas convergem para tendências comuns, como por exemplo a interpretação filosófica das teorias.
A antropologia baseia-se no aspecto histórico-social assimilado pelo aluno, ou seja, as interações sociais estabelecidas pelos homens lhe proporcionavam agir sobre o mundo, e toda essa maneira de se aprender a realidade se expressa de formas diferentes durante sua história.
Do ponto de vista epistemológico, que significa o estudo do conhecimento e a formação de suas teorias, desenvolveram concepções voltadas à interação ou construção do conhecimento superando o inatismo e o empirismo. O conhecimento posto em questão era absorvido por etapas onde a criança organiza a sua forma de pensar e a afetividade, daí então surge a epistemologia genética.
Jean Piaget nasceu na Suíça, no dia 09 de agosto de 1896, na cidade de Neuchâtel. Aos 22 anos formou-se em Ciências Naturais, estudou também filosofia e psicologia. Em 1923, casou-se com a psicóloga Valentine Châtenay, que colaborou em suas primeiras pesquisas sobre o desenvolvimento da inteligência e a construção do real, observando seus próprios filhos.
Piaget sempre foi considerado um gênio pela precocidade de seu talento intelectual e pela originalidade e importância de suas pesquisas e teorias sobre o conhecimento humano. Ele morreu em Genebra, aos 84 anos.
Buscando compreender como o homem elabora o conhecimento, Piaget desenvolveu o que chamou de Psicologia Genética. De acordo com sua teoria, o desenvolvimento, é um processo de equilibrações sucessivas que conduzem a maneiras de agir e de pensar cada vez mais complexas e elaboradas.
Esse processo de equilibrações apresenta quatro períodos ou estágios definidos, caracterizados pelo surgimento de novas formas de organização mental: período sensório-motor (de 0 a 2 anos), período intuitivo ou simbólico (de 2 a 7 anos), período das operações concretas ( de 7 a 14 anos) e o período das operações formais (a partir da adolescência).
Segundo Piaget, os estágios se sucedem numa ordem fixa de desenvolvimento, sendo um estágio sempre integrado ao seguinte por meio dos mecanismos de organização e adaptação.
O processo de adaptação supõe dois processos interligados, a assimilação e a acomodação. O primeiro descrito como assimilação: quando ao agir sobre o meio, o individuo incorpora a si elementos que pertencem ao meio; o segundo, acomodação: Processo de modificação que se opera nas estruturas de pensamento do indivíduo. Sendo assim, a inteligência é assimilação por permitir ao indivíduo incorporar os dados da experiência. É também acomodação, pois os dados incorporados produzem modificações no funcionamento cognitivo da pessoa.
A psicopedagoga, Emília Ferreiro, propôs um novo olhar sobre a alfabetização. Suas idéias constituem uma nova teoria, intitulada Psicogênese da língua escrita.
Emília Ferreiro juntamente com Ana Teberosky, foram motivadas pelos altos índices de fracasso escolar e mostraram como a criança constrói diferentes hipóteses sobre o sistema de escrita, antes mesmo de chegar a compreender o sistema alfabético.
Essa teoria afirma que todos os conhecimentos têm uma gênese e explicita quais são as formas iniciais de conhecimento da língua escrita. A autora mostra como as crianças chegam a ser leitores, antes mesmo de sê-lo. Ela apresenta um suporte teórico construtivista, no qual o conhecimento aparece como algo a ser produzido pelo indivíduo, que passa a ser visto como sujeito e não como objeto do processo de aprendizagem.
Voltado pra área do pensamento e da linguagem, Lev Semenovich Vygotsky, nascido na Rússia czarista do século XIX, viveu intensamente as idéias revolucionárias que transformaram a Rússia em União Soviética, sendo, portanto marcante a influência marxista no seu pensamento e método dialético.
Mencionando ainda alternativas para a psicologia podemos descrever e citar duas linhas de raciocínio, que vão ser posteriormente criticadas por Vygotsky. A primeira diz respeito à forma empírica e aí, podemos citar o médico russo Ivam Paulov, que a partir da observação dos fenômenos de digestão e salivação, encaminhou-se para o estudo da aprendizagem, explicando pela primeira vez o mecanismo dos reflexos condicionados. A segunda retrata a psicologia da forma, que não aceita explicações empíricas, segundo as quais as idéias se formam por associação. Vygotsky embora reconheça a importância dessas pesquisas vai criticá-las no sentido de compreender os aspectos tipicamente humanos do comportamento, sobretudo aqueles que se referem aos processos superiores.
Ao explicar posteriormente os processos superiores, Vygotsky utiliza o conceito de mediação, segundo a qual a relação do homem com o mundo não é direta, mas mediada pelos sistemas simbólicos. Essa mediação é levada a efeito pelo uso de instrumentos e signos, que por sua vez, coexiste com uma ligação com o que ele chamou de “elo psicológico real” onde o controle da natureza e o controle do comportamento estão mutuamente ligados. Dessa forma, tanto no desenvolvimento da espécie humana quanto em cada indivíduo, o uso desses artifícios externos passa por um por um processo de internalização. O mesmo acontece com a relação ao pensamento e à linguagem, ou seja, o entendimento entre as mentes é impossível sem a expressão mediadora da fala humana, cujo componente essencial é o significado, que supõe a generalização.
Em todos os níveis de mediação é grande a importacia dada ao outro. Por isso Vygotsky descreve a zona de desenvolvimento proximal que representa a distancia entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. Destacando o trabalho coletivo, incentivando a interação com professores, colegas de turma e pais.
O brinquedo como forma de instrumento lúdico educacional torna-se indispensável para a aproximação da criança e o cotidiano, projetando valores e regras semelhantes ao mundo adulto e que serão essenciais no desenvolvimento do senso cultural futuro.
Contudo, a introdução das teorias construtivistas nas escolas enfrenta problemas antigos e já conhecidos de muitos. A reciclagem e atualização dos professores, a má interpretação das teorias, resquícios de práticas antigas, o autoritarismo, o dirigismo e o empirismo, associados à má organização das escolas no que diz respeito ao tamanho das classes, exigência de programas, problemas legais de avaliação e a promoção de alunos, são barreiras a serem transpassadas pelas chamadas tendências escolanovistas.

“O que as crianças podem fazer com assistência de outros, pode ser em algum sentido um indicativo ainda melhor do seu desenvolvimento mental do que o que elas podem fazer sozinhas”. (Lev Vygotsky)


REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1989.

DICA DE FILME: Nenhum a menos

Sinopse: As dificuldades encontradas por uma menina de 13 anos quando tem de substituir seu professor, que viaja para ajudar a mãe doente. Antes de partir, ele recomenda à garota que não deixe nenhum aluno abandonar a escola durante sua ausência. Quando um garoto desaparece da escola, a jovem professora descobre que ele deixou o vilarejo em direção à cidade em busca de emprego, para ajudar no sustento da família. Seguindo os conselhos de seu professor, ela vai atrás do aluno.

terça-feira, 14 de abril de 2009

O PENSAMENTO DA ÉTICA (Edgar Morin)


“A Ética encontra o ser humano consigo mesmo, com sua comunidade, com a espécie”. Essa afirmação de certa forma resume o principio fundamental da ética para Morin, a ligação.
A ética para um indivíduo, no âmbito da palavra ligação, sofre intervenções externas da cultura, das crenças, do meio ambiente e das normas comunitárias compreendida como a tríade indivíduo-sociedade-espécie, fazendo parte de um contexto comum que podem ser analisados de formas distintas, mas nunca isoladas.
Considerada característica inerente a toda ação humana, a ética é um elemento vital na produção da realidade social, ou seja, principal responsável da formação da consciência moral do sujeito. Sujeito esse que para Morin representa a auto-afirmação desse homem no centro do mundo, um ser egocêntrico, possuindo princípios tanto da exclusão (o indivíduo singular) como da inclusão (o individuo coletivo).
Nos dias atuais podemos encontrar diversos dilemas éticos que vão desde crises cotidianas de grandeza local ou global até o nosso relacionamento hostil com a natureza. Banhados pelo egoísmo, auto-indulgência e ganância, a riqueza gerada pelo lucro incondicional torna-se um objetivo que deve ser atingido a qualquer custo e muitas vezes sem escrúpulos. Tentando contornar ou amenizar o impacto capitalista que envolve todo o mundo a palavra de ordem passa a ser sustentabilidade.
Trocar a rentabilidade de meios lucrativos e exploratórios por práticas menos agressivas ao meio ambiente significa transformar o sujeito singular em sujeito coletivo. Repensar o futuro das próximas gerações, a preservação e conservação do meio ambiente e a exploração dos recursos naturais são alguns dos valores que devem ser assimilados não apenas por nossos representantes no poder, mas também por nós mesmos, representantes de uma sociedade como um todo.
A nova visão ecocêntrica, traz consigo um conceito para a ética ambiental segundo Antônio Silveira: “Estudo da conduta comportamental do ser humano em relação à natureza, decorrente da conscientização ambiental e conseqüente compromisso personalíssimo preservacionista, tendo como objetivo a conservação da vida global”. O novo conceito parte do principio que o homem deve ser consciente que faz parte da natureza, não é o dono dela.
A ética está relacionada ao nosso sentimento moral na qualidade de distinção e justiça, fundamentadas nas idéias de bem e virtude enquanto valores perseguidos por todos os indivíduos que fazem parte de um coletivo. Sendo assim questões vivenciadas durante nosso cotidiano nos colocam diante de situações práticas que nos obrigam a aplicar o conceito de ética e moral. Qual atitude é a mais correta? Devo ajudar um amigo em perigo, mesmo correndo risco de vida? Os soldados que matam numa guerra, podem ser moralmente condenados por seus crimes ou estão apenas cumprindo ordens?
A última questão levantada anteriormente representa o universo prático do senso de ética encontrado por Michael perante o julgamento de Hanna no filme “O Leitor”, destoado pelo que foi vivido no curto romance entre o casal. A situação vivida por Hanna no julgamento pode ir de “culpada” a “inocente” facilmente dependendo do ponto de vista de Michael ou do júri público. Os códigos de leis morais e éticas apresentados no filme serão inócuos para a questão, já que a solução para o dilema apresentado no filme não envolve apenas a pessoa que o propõe, mas também a outra pessoa que pode sofrer conseqüências das decisões e ações tomadas pelo primeiro.
Duas situações puderam ser observadas durante o decorrer do filme. A primeira, descrita anteriormente, abre a discussão da ética perante a omissão de Michael sobre fatos relevantes que poderiam mudar a sentença aplicada a Hanna por decisão do Juiz. A segunda, parte do principio da obediência. Hanna como um soldado que responde a ordens não poderia libertar os presos da igreja que incendiava, contrariando a ética trabalhista apresentada naquela situação. Como demonstra o filme, o ataque às instalações presidiárias seguido da fuga de seus superiores causou um conflito moral para Hanna. Libertar os prisioneiros e descumprir uma ordem direta agindo com compaixão e de forma altruísta ou seguir os princípios egoístas nazistas deixando os prisioneiros padecerem em virtude de uma possível rebelião?
Morin no texto “O pensamento da ética” aborda tal situação como transformações históricas e revoluções que fizeram parte da evolução social do ser humano, possibilitando a sua emancipação. O homem passou a modificar o seu meio, a sua existência, questionando, discutindo, empregando valores, tornando-se autônomo e individualista, tomando suas próprias decisões.
A necessidade de uma auto-ética, não como um conjunto de valores coletivos (por exemplo, a religião), mas como uma visão particular do que é correto e de seu poder de formular suas próprias obrigações morais desenvolve o individualismo constituído pelo universalismo ético e o desenvolvimento do egocentrismo.
A ética, a moral e o egocentrismo, em muitas situações, andam de mãos dadas em campos diversos que compõe a sociedade. Sociedade essa que prima por um desenvolvimento sustentável, do meio ambiente por exemplo, que necessita de um envolvimento e de uma participação ativa da população. A consciência de uma ética-moral adquirida por membros de uma sociedade causa a descentralização do Poder, por mim aqui representando o egocentrismo, formado por grupos com ideologias distintas, que lutam entre si pela ocupação da cadeira maior do Estado. Assim, a realização do eu próprio acaba desviando os homens da busca pela concretização do bem comum, afundando os ideais daqueles que prezam por um futuro sustentável.
Pessoas distinguindo o certo do errado, o útil do inútil, o bem do mal, tendo noção de seus direitos e obrigações legais com respeito ao uso da terra e dos recursos naturais, exigindo investimentos na área de reabilitação e conservação dos recursos naturais e acima de tudo, formadoras de opiniões, são sujeitos que possuem um alicerce bem fundamentado de ética e moral.
Ética e moral estão intimamente relacionadas como condições inerentes aos seres que vivem em sociedade, mas para outros, há diferenças significativas entre a ética e a moral. Ética é principio, moral são aspectos de condutas especificas. Ética é permanente, moral é temporal. Ética é universal, moral é cultural. Ética é regra, moral é conduta de regra. Ética é teoria, moral é prática.
O conceito de ética apresenta-se de formas diferentes, através de pensamentos diferes, por pensadores diferentes. Acima de tudo, um princípio a ser seguido.

“Ética é o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto".
(FERREIRA, 2004)

“O ato moral é um ato de religação: com o outro, com uma comunidade, com uma sociedade e, no limite, religação com a espécie humana”.
(MORIN, 2005)

“Ética é: fazer o bem; agir com moderação; saber escolher; praticar as virtudes; viver a justiça; valer-se da razão; valer-se do coração; ser amigo; cultivar o amor; ser feliz”.
(CHALITA, 2003)

"A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta".
(VALLS, 1993)

“No campo da atividade econômica, perseguir o lucro sem levar em conta as conseqüências potencialmente negativas pode, sem dúvida, trazer sentimentos de grande alegria quando se alcança o sucesso. Mas, no final, há sofrimento: o meio ambiente fica poluído, nossos métodos inescrupulosos levam outras pessoas à falência, as bombas que fabricamos causam mortes e ferimentos. A ética é o meio de garantir que não prejudiquemos os outros”.
(DALAI LAMA, 2000).

REFERÊNCIAS:


CHALITA, Gabriel Benedito Issaac. Os dez mandamentos da ética. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.

DALAI LAMA, Sua Santidade. Uma ética para o novo milênio. 7ª ed. Tradução Maria Luiza Newlands. Rio de Janeiro: Sextante, 2000. 256p.

FERREIRA, Aurélio B. H. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3ª ed., Curitiba: Positivo, 2004.

MORIN, Edgar. O pensamento da ética. O método 6: Ética. Porto Alegre: Sulina, 2005, p. 19-30.

VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. 7a edição Ed. Brasiliense, p.7, 1993.

http://www.aultimaarcadenoe.com/artigos51.htm. Acesso em: 06 de Abril de 2009.

DICA DE FILME


- Narradores de Javé


- Sinopse:
Nada mudaria a rotina do pequeno vilarejo de Javé se não fosse o fato de cair sobre ele a ameaça repentina de sua extinção: Javé deverá desaparecer inundado pelas águas de uma grande hidrelétrica. Diante da infausta notícia, a comunidade decide ir em defesa de sua existência pondo em prática uma estratégia bastante inusitada e original: escrever um dossiê que documente o que consideram ser os "grandes" e "nobres" acontecimentos da história do povoado e assim justificar a sua preservação. Se até hoje ninguém preocupou-se em escrever a verdadeira história de Javé, tal tarefa deverá agora ser executada pelos próprios habitantes. Como a maioria dos moradores de Javé são bons contadores de histórias, mas mal sabem escrever o próprio nome, é necessário conseguir um escrivão à altura de tal empreendimento. É designado o nome de Antônio Biá, personagem anárquico, de caráter duvidoso, porém o único no povoado que sabe escrever fluentemente. Apesar de polêmico, ele terá a permissão de todos para ouvir e registrar os relatos mais importantes que formarão a trama histórica do vilarejo. Uma tarefa difícil porque nem sempre os habitantes concordam sobre qual, dentre todas as versões, deverá prevalecer na memória do povoado. Na construção deste dossiê, inicia-se um duelo poético entre os contadores que disputam com suas histórias - muitas vezes fantásticas e lendárias - o direito de permanecerem no patrimônio de Javé.



segunda-feira, 30 de março de 2009

OS VALORES (Maria Lúcia Arruda)

Atividade Proposta: DISCUSSÃO DO TEXTO SOBRE VALORES.

O mundo dos valores vai além dos bens econômicos, vitais, lógicos, éticos, estéticos e religiosos que encontramos ao nosso redor, valor compreende todo o arcabouço intelectual obtido com a vivência humana.
Dar determinado valor a alguma coisa representa o grau de significância que tal coisa tem para nós, ou seja, o conteúdo de importância nos causa atração ao invés de repulsão. O julgamento das características e de suas atribuições são o principal responsável por nos causar atração. Tal conceito aplicado na prática nos revela o sentido da palavra valoração, a vivência em um mundo capitalista que nos impregna com as mais diferentes formas de valoração nos obriga a relacionar os valores com a dada situação.
Sabendo que o mundo dos valores faz parte da base de nossas principais decisões e ações, é imprescindível a sua aplicação na educação. Transmitir valores morais, políticos e estéticos aos alunos, por exemplo, garante o primeiro passo para se formar uma “cabeça bem-feita”, contribuindo na formação de bons cidadãos.
O valor das características morais transmitidos aos alunos proporciona uma ligação direta entra a escola e a vida. Através da interação com colegas de turma e o simples convívio com os professores estimulam nos alunos, mesmo que sem perceber, condutas cooperativas entres os grupos, cabe aos professores dar ferramentas para que os alunos possam distinguir o bem e o mal, contribuindo para que os mesmos adquiram um senso de ética, já que moral e ética são faces de uma mesma moeda. A formação de um ser moral constitui aquele que não recebe passivamente o que a sociedade lhe impõe, mas sim aquele que as aceita ou recusa, dependendo do seu valor, sendo livre e consciente das suas ações ou omissões.
Educar um individuo com todos os valores básicos para que esse seja considerado cidadão fica difícil quando leva-se em conta a distância acentuada entre as chamadas “escolas da elite” e as “escolas para pobres”, intensificada pelo desequilíbrio da má distribuição de renda, ou seja, o desequilíbrio do poder. Tal desequilíbrio pode estar relacionado com a alienação das camadas mais inferiores da sociedade, que pela falta de escolaridade e educação não possuem voz ativa perante a comunidade, contradizendo completamente o verdadeiro sentido da palavra democracia. Cabe a nós, futuros professores, “libertar” a mente desses que são cidadãos somente na hora de votar.
Transmitir valores requer ferramentas eficazes para se conseguir tal objetivo, a educação estética, representada por todo o conhecimento cultural adquirido ao decorrer de uma vida, se remete ao verdadeiro sentido das palavras: “faculdade de sentir”, “compreensão pelos sentidos”, “percepção totalizante”, a arte como forma de conhecimento que organiza o mundo por meio do sentimento, intuição e da imaginação. A arte estimula o pensar, contribuindo para a construção da personalidade do cidadão.
O ato de pensar liberta o individuo, e como educar com liberdade? Liberdade não é algo que é dado e sim uma conquista ao longo da formação do ser humano. A sua limitação atrofia o conhecimento, o questionamento e a solução de problemas, a política adotada por alguns governos visam justamente essa limitação, ou seja, formar pessoas incapazes de contestar a autônima do poder, não tendo conhecimento de seus direitos e deveres perante a comunidade. Por estar inserido numa sociedade, o homem sofre diversas influências, mas sendo um ser consciente, capaz de argumentar as imposições ele é capaz de agir sobre a realidade e transformá-la.
Educar sem limitar, limitando para educar. A autoridade do professor em sala de aula não pode ser excessiva nem tão pouco omissiva!

“Na relação dos seres humanos entre si isto é o mais sublime: o educando é para o educador estímulo para que se conheça; o educador motiva o educando para o autoconhecimento; o educador não deixa após a morte nenhuma pretensão com relação à sua influência sobre a alma do educando, da mesma forma que o educando não pode imaginar que o educador lhe deva algo”. (Pieper, 2003)

REFERÊNCIAS

PIEPER, A. Einführung in die Ethik. Tübingen: A. Francke, 2003.